quarta-feira, 1 de agosto de 2012

CRIANÇA SUPER PODEROSA

                                                                     Conto 

No banco de trás do carro, João Pedro, único filho do casal, estava ainda emburrado por sair tão tarde daquela festa.  Ele já tinha perdido tempo demais com seus primos, que pouco via e que não fazia questão alguma de vê-los. Mas o pior era ter deixado o novo jogo no vídeo game para ir a uma destas festas insuportáveis de família.
João Pedro era um menino que vivia sempre as voltas com seus pensamentos, sua mãe achava muito estranho, um menino de 12 anos que se relacionava tão pouco com o mundo externo. Vive no mundo da lua, dizia sempre sua mãe para seus amigos e conhecidos.
O fato era que ele tinha super poderes, mas era um segredo, se acaso alguém soubesse disso poderia perder esses tais poderes subitamente.
Naquela noite ele decidiu não usar sua capacidade de controlar as pessoas com seus pensamentos, resolveu ir até onde poderia suportar seu desagrado com o acontecimento e foi.
Quando o carro parou no semáforo, dois assaltantes invadiram o banco traseiro, ficando um em cada lado de João Pedro, gritaram para o seu pai: é um assalto! Continue dirigindo este carro seu filho duma puta.
Pedro Luís, um médico reconhecidamente famoso, seguiu a ordem dada pelos assaltantes, embora pálido naquele momento, ainda pôde confortar a sua esposa, dizendo pra ela ficar calma e que tudo ia acabar bem.
Um dos meliantes no carro estava um pouco mais nervoso e era bem agressivo, começou a gritar com a mãe de João Pedro e arrancar os seus brincos enquanto esfregava na nuca do seu pai um revolver calibre 45, prata que brilhava durante os reflexos dos faróis dos outros carros ameaçando matar a família inteira se ele não fizesse o que estava mandando.
-Fique calmo, dizia ele aos ladrões e olhava para os olhos do filho, que parecia estar mais calmos do que nunca, indiferente ao fato presente. Filho fica tranquilo daqui a pouco nós chegaremos a nossa casa, dizia essas palavras com voz um pouco trêmula.
João Pedro achou que já era hora de usar os poderes, mesmo sabendo que seria pela ultima vez. Por uma razão justa, ele decidiu que proteger a família seria por uma causa nobre. Dirigiu seu olhar a um dos assaltantes e fez sua mão ficar tão fraca que mal conseguia segurar o seu revolver, olhou para o outro e o fez se sentir tão assustado dentro do carro, que começou a tentar destravar a porta para sair correndo, ao mesmo tempo, que gritava socorro por sentir ameaçado por alguma coisa que só João Pedro sabia.  
A mãe do menino ao ver aquela cena, sentiu uma raiva tão estranha que mal cabia dentro de si, ordenou ao seu marido que encostasse o carro próximo a um terreno baldio que tinha no caminho.
-Vamos arrancar estes filhos da puta do carro e descarregar sua própria arma em suas cabeças.
O marido inconformado com tal atitude relutou a ordem e tentou acalmar sua mulher, dizendo que não estava em nossas mãos tal punição, ainda tentando entender o que se passava naquele carro. Como de repente um dos assaltantes se enfraquecera tanto que mal podia segurar sua própria arma? Como o outro estava tendo um ataque de pânico desesperador que dava até dó, sendo ele um psiquiatra renomado e conhecendo tal sofrimento.
Embora relutante, estacionou o carro ao lado do terreno baldio, e destravou as portas, permitindo que saíssem de dentro. A mulher aos berros gritava com eles para saírem dali imediatamente, mas era inútil. Eles estavam petrificados no banco traseiro. Ela ainda não sabia quais eram os planos do menino.
João Pedro então pediu para que saíssem e ficassem nus no meio da rua, depois, que entrassem no terreno abandonado e que duelassem até a morte. Enquanto seus pais fossem assistindo extremamente calmos toda cena que estava se desenhando na sua cabeça.
Os dois assaltantes brigavam com pedaços de pau e pedras que encontraram no terreno, impondo hematomas e sangramentos um ao outro até que caíssem ao chão, exaustos e entregues a morte.
João Pedro achou que já estava na hora de reencontrar o vídeo game, achou que aquela luta poderia se arrastar por muito tempo. Pegou o revolver prateado calibre 45 que brilhava, mesmo no escuro, e caminhou próximo das suas vitimas, descarregando as balas no peito e na cabeça dos assaltantes até que deixassem de respirar.
Estranhamente, ele parecia sorrir, como se tivesse vencido uma fase de um jogo novo. Os pais se calaram e voltaram ao carro como se nada de anormal tivesse acontecido. Apenas, um silêncio ficou no ar, algo de surreal e extraordinário. Prometeram nunca mais tocar no assunto.
No outro dia o telejornal mostrava os corpos, quase dilacerados e roxeados pelo frio. Um homem, uma mulher e uma criança, estranhamente com um sorriso no rosto.


Marcos Tavares de Souza,



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