terça-feira, 14 de agosto de 2012

O PREÇO


                                                                  CONTO

Primeiro, a luz que vinha da janela, depois o relógio que tiquetaqueava como uma britadeira, depois ela, a desgraçada e incompreensível dor de cabeça. – Onde estou? Que porra de lugar é este? Olhei ao redor com os olhos pesando uma tonelada. Nada entendi. Procurei meu celular pelo chão da sala, com as mãos estendidas até onde elas podiam ir; debruçado sobre o sofá. Caralho que cachaça foi essa! Cadê os meus comprimidos, procurei nos bolsos, nada! Procurei na carteira, nada! Fiquei ali por uns instantes, tentando lembrar o que tinha que fazer naquele dia e querendo entender o que tinha acontecido no dia interior.
Puta que pariu! Tô mijado! Quem me trouxe até aqui? Onde tem comprimido nesta porra? Levantei, dei uns passos até a cozinha, havia um tanque cheio de roupas sujas na lavanderia, joguei tudo no chão e comecei a mijar. Vendo por uma pequena janela a altura do prédio, devia estar no vigésimo andar.
Voltei para sala cambaleando, dei uns passos até o quarto e vi deitada sobre a cama, a mulher mais linda do mundo! Puta que pariu , será que eu comi esta daí? Fui mais perto para ver de perto aquela escultura talhada a dedo. Bom dia, disse ela com uma voz mais linda ainda, dormiu bem? Ela me olhou com uns olhos verdes que brilhavam tanto que irradiava luz pelo quarto meio na penumbra ainda, por causa da janela ainda fechada.
-Sim, muito bem. Respondi meio acanhado pelo cheiro da roupa mijada, Desculpe, não me lembro de muita coisa ontem, você tem aqui paracetamol? Perguntei.
Não, infelizmente não tenho o habito de tomar remédio, posso fazer um coquetel de legumes e frutas que é tiro e queda pra você, você quer?
-Sim, respondi meio frustrado.
Ela levantou apenas com a calcinha de renda minúscula, revelando a consistência da pele das coxas de uma menina no ápice do seu corpo. Foi até a cozinha e preparou uma jarra da poderosa receita que se tratava de um segredo de família. Trouxe até mim com um sorriso no rosto, deixando parte dos seios fartos à mostra.
-Tenho um moletom e uma camiseta no armário, vou pega-los enquanto você toma banho. Quase que ordenou, delicadamente.
Puta que pariu! Que mulher do caralho é essa! Tentava lembrar como eu tinha conhecido e conseguido comer uma mulher desta enquanto tomava banho e sentia a combinação de cheiro de sache de laranja com lavanda perfumando o banheiro extremamente limpo e organizado.
Sai do banheiro já melhor, o suco verde já estava me recuperando, a cabeça doía bem menos, o corpo estava mais disposto e fortalecido, parei uns segundos em frente ao espelho e lá fiquei. Engraçado! Parece que existe um lapso de memória gigante em mim.
Da sala vinha um barulho de secador de cabelos e um cheiro forte de Listerine que ela usava pra desinfetar o sofá e tirar o cheiro da urina.
Usava um shortinho minúsculo e uma camiseta deixando a mostra o umbigo e um abdome sarado, fiquei mais perto para ver se era tudo de verdade. Desculpe por isso, eu tenho esse problema quando bebo demais. Falei meio envergonhado, por que isso é coisa de criança.
-Tudo bem, Rodrigo, eu entendo estas coisas. Respondeu sorridente.
-Você pode me dizer seu nome, desculpe, mas não me lembro.
-Isabela.
-Pode me dizer como nos conhecemos, Ontem?
-Não foi ontem, já nos conhecemos á algum tempo,
-Desculpe, mas não estou entendendo, uma mulher como você é inesquecível, Eu não me lembro de ter te conhecido e não ter me apaixonado. Fui galanteador.
-Ah! É assim mesmo, esse é o efeito da droga.
-Droga, que droga! Você me drogou ontem à noite?
-Não, não sou eu que faço este serviço, eu apenas estudo o comportamento do usuário.
-Não sou usuário de nada, nem maconha eu fumei na vida.
-Sim, entendo! Não é culpa sua, todos dizem a mesma coisa.
-Outros, que outros, o que esta acontecendo, me fala.
-Bem, não posso explicar ainda, espera os caras chegarem.
-Que caras? Assustado, indaguei.
-Fica calmo, logo você vai saber. Quer café? Eu acabei de coar.
-Não obrigado, preciso de um cigarro, sabe onde esta meu paletó?
-Desculpe. Cigarro não se fuma aqui, tem que fumar na sacada. O seu paletó esta pendurado naquela cadeira do canto. Falou apontando para uma direção.
Fui até a sacada e comecei a fumar, enquanto punha as ideias no lugar, mas que porra aconteceu meu deus! De que droga esta gostosa esta falando? Ouvi a campainha tocar e ela caminhar até a porta para abrir para dois caras entrarem. São eles! pensei. Ela apontou para mim e os caras vieram na minha direção.
-Podemos conversar seu Rodrigo,
-Sim, caminhei até a sala e sentamos ao redor de uma mesa de mármore. Por favor, me contem o que esta acontecendo.
-Bem, o senhor nos pagou uma boa quantia, para ter essa experiência, estamos aqui para sabermos como foi o resultado.
-Experiência, que experiência, não me lembro de nada! Paguei, quanto que eu paguei?
-Calma, seu Rodrigo, vamos seguir o combinado.
Isabela chegou com uma travessa de café, mais gostosa e linda do que nunca. Era a única coisa que não me fazia surtar ali, serviu os cafés e deixava a mostra um pedaço de calcinha saltar pelo minúsculo shortinho.
-Contem tudo, por favor. Implorei.
-Bem, estamos testando uma nova pílula que faz você passar pelos próximos três meses que você viverá sem experimentar o sofrimento que ele poderia causar. Você veio até nós e quis experimentar a medicação. Esta pílula tem a capacidade de tirar todas as emoções ruins que deveriam acontecer com a pessoa, independente de qualquer acontecimento, começando pelo momento que antevia o fato. Ela faz com que todos estes últimos 90 dias possam ser recontados e sentidos sem emoção nenhuma, é uma pílula muito poderosa, estamos aqui exatamente para contar a sua história e documentar a sua reação.
-Caralho, que cassete! O que vocês vão me contar? Meu filho morreu, minha mulher me traiu, minha filha fugiu com o guarda da rua, minha empresa faliu? Eu perdi meus pais, algum irmão? Por favor, conte-me logo.
-Meu caro Rodrigo, veja bem, qualquer noticia que eu lhe der, não vai dar a você nenhuma reação de sofrimento, você ainda esta sobre o efeito da ressaca do remédio.  Essa reação de espanto e ansiedade é comum, por isso nós trouxemos a outra parte do tratamento, a pílula do dia seguinte, o senhor precisa tomá-la imediatamente, faz parte do tratamento, é indispensável para que o tratamento fique completo. Você tinha com você apenas a primeira pílula, a outra está em nossas mãos.
Isabela, por favor, nos traga agua, ordenou a ela.
Assim que tomei aquela capsula gigante e gelatinosa, acordei no meio do cemitério assistindo meu próprio enterro, enquanto Isabela me contava como tinha sido meus últimos três meses de cativeiro até o momento da bala do revolver atravessar minha cabeça. 



marcos tavares de souza,
tem umas merdas na cabeça
que é foda!


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