sábado, 22 de agosto de 2015

O MEU VIVER


Eu só sei viver despenteada
amarrotada pelas manhãs
abraçada em meu travesseiro
encantada por poesias
que nunca soube recitar.

Eu só sei viver amontoada
dançando com vaga-lumes
contando estrelas pra esquecer
os dias que não quis acordar,
as vezes que amar, foi sofrer.

Eu só sei viver toda arranhada
acidentada por tantas vezes
não ter limites,
submetida aos meus pés aflitos...

Inconformada por sorrir
tantas vezes triste,
incendiada por ter sempre
um novo risco,
estimulada por desafios
que nunca soube desistir,      
aprisionada a uma lagrima
que resiste,
...em não cair.



Marcos tavares                        

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

ANÁGUAS

Esse homem é meu mal,
já me deixou pelas vielas.
Ele vagabunda pelas ruas,
some a noite e me falta.

Ele carece de lucidez,
é meu bem, meu algoz,
minha estupidez,
minha silhueta triste.

Ele me esvazia, me dilui,
vive de mim, da minha sina,
se cala quando eu surto,
me ingere quando uivo.

Ele me veste com anáguas,
remenda minhas falas, meu medo,
me aquece com zelo e mágoa,
por eu saber o seu segredo

Eu lhe sirvo, canto nua.
cuido da sua ferida quando ferve.
Ele me sua, me come crua,
por eu curar a sua febre.


Marcos tavares 



sábado, 8 de agosto de 2015

CUIDA DE MIM

Cuida de mim, do meu punhal,
da minha sede animal,
de ter surrado quem não podia,
cometido crimes que não queria.

Cuida de mim, da minha mágoa,
do rancor ter sido tanto,
de não ter dado acalanto,
nem aprendido perdoar.

Cuida de mim, da minha farda,
da minha veia de vingança,
do sangue marginal que acovarda
essa fome voraz que não se farta.

Cuida de mim, do meu estrago,
do anel inútil que me decora,
da soberba de se sentir tão raro,
e ser mais um que também chora.

Cuida de mim, do meu desatino,
dos espinhos que não deixaram de doer,
das coisas que me entrego sem poder
sem saber por onde levam seus caminhos

Cuida de mim, dos meus pés,
das pedras que mereço pisar,
por saber que por onde eu ando
não tem lugar pra eu ficar. 


Marcos tavares