quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

SUAS RETINAS


Trago em minha boca
o seu beijo úmido,
e este perfume no corpo
de peles que se misturam.

Desviro a minha alma

em busca de outros rumos,
caminhos não percorridos
que ainda te procuram.

Tenho asas pra voar,

mas não sei partir sem te levar,
Sou nômade dos teus gestos,
cárcere das tuas entranhas.

Ouso abrir a porta e tentar partir 

e noto em meus passos
que você ainda é meu lugar,
o espaço que aprendi caminhar.

Procuro frestas em suas retinas

como as manhãs entre as cortinas
e vejo a vida em seu olhar
me mostrando onde pulsar.


Marcos tavares

foto de Aline Vianna

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

ORAÇÃO

Morro no meio-fio, 
sem exigências,
...que assim seja!
não me  indigno 
ao que me inflige
...que seja feito.
alego saber o seu nome
mas, eu minto.

Vivo ao meio dia,
mas, detesto luz,
bandido fui, mas fui domado
tomado sou, por sua cruz
mas, eu renego.

Que se danem
os meus caminhos,
a  falta de virtudes,
por  você eu sou sondado
em você  serei banido

Que se dane 
o teu silencio
a tua  face oculta,
por você eu sou guiado
nos teus  braços abatido.

Marcos tavares

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

VERSOS DE DOR

Sou pedaço de terra,                                       
celeiro de palavras que crescem,
espalham-se pelo chão,
-desarrumadas-
Emaranham-se entre si.

Faço frases no quintal,
jogo-as na calçada,
onde pisam os homens sós,
alienados pelo tempo.

São palavras que sangram
na ponta dos dedos.
Arrancadas sem piedade,
desabitadas dentro de mim.

A minha poesia é frágil.
Ela se derrama em vendavais,
ousei sonhar um dia
e me deram arsenais.

Os meus versos são de dor,
mas um dia foram rimas,
soterraram meu sorriso
e me condenam de ser triste.



Marcos tavares

foto da amiga Karla Jacobina
https://www.facebook.com/karla.jacobina?fref=ts


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

ESTRANHO NA SALA


Sou um estranho na sala 
fazendo contas,
refém do controle remoto,
reencenando o passado
...desfazendo as derrotas.

Um estúpido no elevador
disfarçando os medos,
refazendo as somas,
lembrando senhas de cadeados
que trancaram meu coração

Um ser qualquer
esperando o sol se por
com desafetos pra remoer
planejando calendários
pra se desfazer da dor.

Um corpo qualquer
(ao meio fio)
qualquer rima denunciaria
qualquer destino me levaria
removendo o que restou
das fotografias entristecidas
que não mostram mais
aquele que eu já não sou. 




Marcos tavares


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

IMPERMANENCIA

O desejo da posse
é uma agitação que inquieta a alma.
é um sentir-se incompleto e subestimado
e depois preencher com
coisas que vão se estragando.

É se entregar a inútil ilusão
de sonhar que algo lhe pertence
num mundo em que nada
pertence a ninguém definitivamente.
Tudo verdadeiramente
pertence a impermanência.


Aquilo que não temos…
não precisamos.
O que nos falta…
não merecemos.
O que somos…
já nos basta.


Marcos Tavares


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

VERBOS DA PAIXÃO


Vou me lambuzar de você,
me esparramar,
me misturar na sua boca,
morder os teus centímetros,
me espatifar nos seus remendos.

Em você, vou me esfolar,
me rabiscar,
com as mãos afobadas
salivar nos seus cetins
e me deitar entre seus sapatos

Entre as suas pernas, me esfregar,
empoleirar nas suas ancas,
me afogar na sua nuca,
nos seus pelos eriçados,
desarrumados sobre a pele.

Te desenhar nos meus traços,
nas suas falas, me soletrar,
rasgar as suas roupas.
me perder nos seus olhos de puta,
apaixonantes. Inabitáveis.  


Marcos tavares