quinta-feira, 27 de outubro de 2016

CRIMES QUE CARREGO

Meu olho na janela                   
não expressa sentimentos,
ao longe vejo luzes,
que não revelam de onde eu vim.

Eu não sei o que procuro,
nem mesmo se perdi,
me desfiz dos meus caminhos
pra não saber voltar depois.

Já não sei mais do que eu peno,
nem os crimes que carrego,
eu só tenho este punhal,
que me rasga enquanto eu vivo.

A chuva me conforta,
entre as veias da cidade
eu só tenho este destino,
que não permite que dele eu fuja  

Marcos tavares



domingo, 16 de outubro de 2016

PÁSSARO AUSENTE



Da gaiola do nosso 
relacionamento
em algum momento,
o trinco se abriu:
o amor fugiu.
Por hábito, continuamos
a trocar a água
e a renovar o alpiste.
Mecanicamente, cuidamos
de uma ave
que não mais existe.


Wilson Gorj


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

CIGANA

Sou feita de coisas
que se estranham
as vezes sou ácida, afoita
cheia de preguiça.

Sou feita de paixões impossíveis
de um amor que não cuidei,
de sabores proibidos
que provei sem saciedade,

Nas noites frias nas calçadas,
bate em mim um coração
que não consegue se perdoar,

As vezes sou cigana, ardilosa
cheia de venenos,
seguindo passos de uma dança
não tendo um par para as ilusões
sem emoções que mereçam
guarda-las como lembrança.

Fui feita na condição
de não poder me abater
quando o choro vem me aliviar
nem me cansar de recomeçar
quando o sol vem iluminar
dar chance a um novo dia
tentar me reencontrar.


Marcos tavares

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

PALAVRAS NA AREIA


Sou o que me resta,
não há leito de morte,
não há corte no meu peito,
nem sombras pra dissipar.

Eu poderia ser tantas coisas...
um suicida,
um sacerdote,
um aprendiz,
ou apenas um tolo,
desfazendo o seu jardim.

Eu poderia ter tantas coisas...
funções,
religiões,
alucinações,
ou somente ter
um plano pra partir.

Sou apenas esta frase se formando,
uma mente se ajuntando,
apagando palavras na areia,
pra se esparramar de novo.

Sou o que vai ficando
com a porta entreaberta ao inevitável,
sem palmos pra medir certezas,
nem passos pra traçar limites. 

Marcos tavares