terça-feira, 30 de outubro de 2012

AGUENTA CORAÇÃO !


No dia 3 de outubro o miocárdio completou 70% de interrupção e acionou meu cérebro, este fez doer como jamais havia sentido. Tudo bem,  me assustou também, como nunca. E hoje, dia 26, já trabalhei o dia inteiro normalmente. Dá uma vontade de comemorar, reunir todos os fantasmas e fazer aquela bagunça.
Mas acabou a bagunça, sumiram os fantasmas, os aperitivos e rápidas experiências de morte. Não estou triste, até me surpreendo, ando acreditando em tudo tão intensamente que, o que não é verdade, por vergonha ou inutilidade mesmo, se desfaz qual bola de sabão e eu nem sequer, muitas vezes, presto atenção.
De alguma maneira, enfim, minha vida está nas mãos de Deus, de verdade, e só sei disso porque só agora e aqui, em nossa particularidade virtual, falo a respeito.
Tem algo que me atenta, um pensamento teimoso, de que perdi 30 anos de vida, que desde os 22 já poderia estar assim, nem sei tornar palavras, como se a felicidade fosse uma eterna despreocupação. Eu sei que de repente é só o sabor de cada vitória dia após dia, que a melhor vitória vem se aproximando sem pressa.
Mas, repito, dá uma vontade de comemorar, e quando sei que logo logo estarei sim comemorando como nunca, com pessoas vivas, nossa, ai meu coração, aguenta aí, não explode, não!!!

José Expedito dos Santos.



ICEBERG



o que escondo
nem sempre é
a minha parte
mais perigosa


um bloco de ternura
hiberna
há muitos invernos
submerso em mim
à espera
de tantos reencontros




Ademir Antonio Bacca.







domingo, 28 de outubro de 2012

GAIA CIÊNCIA



 

Gosto de me iludir     
...pensando
que hoje amo
melhor que 
ontem amei.

Assim desculpo 
o jovem afoito
que, em mim, 
me antecedeu
e, generoso, 
encho de esperanças
o velho sábio
que amará 
melhor que eu.






Affonso Romano de Sant ´anna 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

BANQUETES NO CÉU

Eu sempre quis acreditar em Deus,
do jeito que me apresentaram.
Quis buscá-lo por medo e por virtudes.
Tentei não ser canalha e imperfeito,
mudar minhas palavras hostis,
mas eu não pude! Tive que seguir sem ele.

Eu tive que trair alguns amigos.
Abandonar quem me queria por perto.
Fugir e ser covarde, sentindo medo do escuro.
Eu tive de mentir, me esconder, ás vezes, fui cruel.
Sempre vivi esfomeado nos desertos.
Nunca imaginei banquetes no céu.

Eu sempre fiz o que o pude,
usando as armas que tive.
Diante dos indefesos eu fui insensível,
tramei matá-los e jogar aos abutres,
tive vícios e os carrego, pois ainda vivo.
Caminhei por procissões, sem entender.

Já vi Deus em mendigos e o temi.
Eu tive Deus em minhas mãos e o desconheci.
Vou à sua procura, quando ferido.
O diabo me estimula, a sordidez me comove,
não sou um grande exemplo, às vezes choro.
Sou ovelha desgarrada a sua espera. 


Marcos tavares de souza




segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O GRITO



Se ao menos esta dor servisse
se ela batesse nas paredes
abrisse portas
falasse
se ela cantasse e despenteasse os cabelos

se ao menos esta dor se visse
se ela saltasse fora da garganta como um grito
caísse da janela fizesse barulho
morresse

se a dor fosse um pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir a saliva fora
sujar a rua os carros o espaço o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre tem o direito de não sofrer

se a dor fosse só a carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra
para doer  doer  doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas

se ao menos esta dor sangrasse


Renata Pallottini