segunda-feira, 27 de agosto de 2012

TANGO


Ainda danço tango 

com teus ternos 

guardados no armário

Ainda faço amor 

no mesmo ritmo 

das lembranças 

de tua língua



Ele não voltou para pegar suas roupas 

e eu não joguei nada fora: nem as gravatas,

nem a flor seca que ainda teima em espalhar 

um cheiro de despedida pelo quarto.

Deixei tudo lá, para me servir de choro e castigo,

para me fazer rastejar, sozinha, de culpa e desejo.

Ai, a ausência que nada preenche:

Nem os dedos, nem a vontade que surge quando não peço, 

nem esta pouca vergonha que me faz gemer seu nome

 enquanto me arrasto pelo chão.

Nem o tango que ouço enquanto umedeço.

Nem a saudade me revirando por dentro.

Nada preenche:

A fome.

...e a lembrança de suas mãos desenhando

 em meu corpo todos los pasos de amor.



Mariza lourenço


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