branca e quadrada como uma cadeira, pesada demais.
Diria que é o esquife de um anão
ou de um bebê quadrado
não fosse o rumor que vem de dentro.
Está fechada agora, é perigosa.
Devo zelar por ela a noite inteira
e não posso me afastar.
Não há saída, é impossível ver o que há nela.
Só uma pequena tela, sem janelas.
Espio pela fresta.
Tudo escuro, escuro,
pelo enxame zangado de mãos africanas
miúdas, prensadas para exportação,
negro no negro, escalando com ira.
Soltá-las, quem dera?
O zumbido é o que mais apavora,
as sílabas incompreensíveis,
são como um turba romana,
não são nada sozinhas, mas juntas, meu deus!
Ouço ansiosa esse latim furioso.
Não sou um César.
Só encomendei uma caixa de maníacas.
Posso devolvê-las.
Ou deixá-las morrer, sou a dona, não preciso alimentá-las.
Imagino quanta fome sentem.
Imagino se me esquecessem
se eu abrisse a tampa e recuasse e virasse árvore.
Há um laburno, com suas colunas louras,
e anáguas de cereja.
Podiam de repente me ignorar
em meu véu funerário, em meu vestido lunar.
Não sou fonte de mel.
Por que dão voltas em mim?
Amanhã serei o doce Deus, vou soltá-las enfim.
A caixa é apenas temporária.
SYLVIA PLATH
(Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)
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