terça-feira, 19 de agosto de 2014

ENXURRADAS

Sou um bicho. Tenho cáries.
Fuço as ruas como enxurradas.
Sou sarjetas, quando nua.
Fujo só, quando assustada.

Sou silaba que se junta quando iro,
palavras que se amontoam quando calo.
Uma janela que reflito quando me espelho.
Eu parto em febre se preciso maturar.

Os meus olhos tem das ruas as fuligens.
Memórias das esquinas acidentadas.
Não sei dos dedos o que fomentam,
nem mesmo neles, o que rascunham.

Ás vezes, 
eu me quero barro, desenhando.
Pedaços de estradas, me levando.
Folhas de outono ao chão, se misturando,
e chuvas que acalentam o coração.

Outras vezes, 
sou semblante, desfigurado.
Sob o céu em cinzas da cidade, sou flagrante.
Da poeira que se ergue sou errante.
Num estado de verbos indefiníveis, 
as coisas são.

Partilhei segredos fúteis e violei canções.
Cheguei aqui entre seus dentes como fome 
e mesmo, sem saber, o que ainda era são,
fui tomando a forma deste chão.


Marcos tavares


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