domingo, 22 de setembro de 2013

MUNDO MISERÁVEL


Mundo miserável...                                                     
Eu prefiro as putas
do que as mulheres que fodem sem verdade.
Eu prefiro as ruas
do que as casas que me abrigam sem calor.
Eu prefiro a fome
do que a mesa que só sacia minha avareza.
Eu prefiro a morte
do que a vida segregando-me em trincheiras.
Eu prefiro a traição
do que um olhar desprezível.
Eu prefiro mesas de botequins com marginais
do que jantares brindando a opulência.
Prefiro lanterna nas mãos pra me guiar passo a passo,
do que os faróis das pessoas que impõem suas receitas.
Eu prefiro os cortes de uma faca
do que a ferida de um amor que ainda sangra.
Eu prefiro as mãos que me asfixiam
do que as que me afagam com mentiras.

Mundo miserável...
Estou bem no meu jardim
com minhas ervas daninhas.
Não espero medalhas, enfeites,
porra nenhuma!
Deixem-me viver à minha maneira,
morrer se for preciso,
com os pergaminhos
guardados no coração. 

Prefiro as punhetas das manhãs
do que as orações da noite.
Prefiro a cidade enfurecida,
que a calmaria da madrugada.

Não sei viver no silencio, 
debruçado sobre mágoas. 
Não quero ser mais um tolo
que olha o mundo e enxerga
um mundo que não existe,
mas sim, que apenas interpreta.
Quando eu olho o mundo
vejo uma dança cósmica e selvagem.
Moléculas e átomos desconexos,
bêbados a bailar.    

Marcos tavares 




 

sábado, 21 de setembro de 2013

INBOX


Ele me chama de Mulher e me convida prum Whisky. 
Diz:
- Vamos, eu te busco e tal, por onde você anda? Onde você mora?
Não sei onde moro, amor. Deveria morar na minha casa, mas lá é o lugar aonde eu menos moro e, 
por vezes me pego pensando sobre o quanto eu seria Mais-eu se morasse Mais-só.
Ah, o sonho da Liberdade! Essa mistura maluca de coca-cola com sucrilhos.
Sempre tão impossível e tentador. Bonito e interessante.
Meus lençóis, meu sabonete. Como eu queria uma privada só pra mim. Já diz o nome, P r i v a d a: não é coisa pra se dividir com ninguém.
Juro que daria tudo pra dormir no sofá e não ter alguém pra me tirar dali. dizer pra eu ir pra cama, desligar a tv, escovar o dente. Tenho 25 anos, porra, e minha família não me respeita.
Na minha casa eu me masturbaria até na cozinha e quase que já me vejo tomando um café na varanda do meu futuro apartamento.
Meu canto seria uma constante de mim. Lá não entraria ninguém que não fosse do meu agrado. Mulheres dormiriam na sala, Homens tomariam banho, poucos cagariam, muitos comeriam e minha parede seria menta.
Eu teria uma vitrola e um fogão de 65, tapetinhos cor de creme, E cortinas... muitas cortinas, pra praticar meu esporte preferido, o Isolamento.
A cozinha teria quadros e a sala nada, acho! só a vivência dos amigos e amantes.
Não, ninguém mandaria em mim.
Eles nem teriam esse direito. A sagrada boca da minha mãe se calaria, enfim.
Tudo dependeria apenas de mim.
Que tesão, meu deus eu quero muito, mas sou artista e por minhas poesias ninguém paga um puto.
Dizem:
- Do caralho, Aline, do caralho!
Mas não é de caralho que se vive um homem. Ou talvez seja.
O fato é que não pago nem as contas do mercado. Moro com gente que me abafa, que não me assanha nem nas cores, em nos volumes.
Tudo é emprestado. Atravancado, até a geladeira e o papel higiênico. A toalha de banho, o cheiro.
Outro dia mesmo um cara me disse:
- Pô, gata, vamos fazer umas fotos? No estilo sexy intimista, bora?
Eu:
- Não sei não, hein. Não tenho corpo pra isso, mas tenho uma imagem a zelar. Como é que fica minha vida acadêmica? Meus alunos vão querer me comer. E outra, onde faríamos essas fotos?
- Na tua casa, ué. Porque não?
Porque não?!
Tu não entendeu porra nenhuma do que eu disse aí em cima, né, irmão?


Aline Vianna

texto original aqui:


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

PRÓXIMA ESTAÇÃO


Chegarias, em vestes invisíveis,
tomada de extintas impressões minhas.
O tato do meu orgasmo delirante
despedaçado,

Girarias teu corpo em rodas de fogueira
á lampejar-se
á determinar-se
a mais bela dançarina.

Deixarias em minhas mãos
- a suspirar cortes
a rosa mutilada
do teu amor,
amanhecido.

Partirias tão sutil, camuflada
...em ermos horizontes
-sem saber do meu amor,
em palmilhas desconcertantes
-intraduzíveis.

Deixaria apenas, em meu peito
versos pisoteados,
meu violão mudo de poemas repelidos,
meu coração nulo, de pequenos universos,
-sem risco de se expandir.


Marcos tavares