A hipocrisia da fé em Deus
Segundo definições colhidas no meio religioso, filosófico e
fontes alternativas, Deus é a inteligência suprema, justiça perfeita, amor
sublime e causa primaria de todas as coisas.
Nada pode acontecer se estas causas não estiverem em ação, a
respeito disto a maioria esmagadora do segmento religioso está de acordo.
Isto implica dizer que se cair um poste na minha ou na sua
cabeça, o único agente é Deus.
Pois nesta ação estará: o amor sublime (o amor acima de
todas as coisas) justiça perfeita (ação e reação) e inteligência suprema
(onipresença, onipotência e onisciência).
O exemplo do poste também vale para as bactérias, as
deformações físicas e mentais e todo manifesto vibrante do qual se é sensitivo.
Fazem parte deste cenário,
a imagem estonteante de um por de sol, o orgasmo, o amor correspondido,
a felicidade da conquista de um objetivo, a saúde recuperada e tantas outras
possibilidades desta manifestação. Tudo que move é sagrado.
Se aceitássemos essa pequena definição, a humanidade já estaria
salva e todas as coisas estariam corretas e organizadas por esse poder infinito.
Desta forma, sim! Teríamos enfim: fé em Deus.
Mas aquilo que chamamos de fé é uma tentativa fálica de
organizar o mundo, conforme nossos critérios.
O mundo que é dado é também retirado a qualquer momento e nada podemos
fazer. Nem mesmo assim, deixamos de tentar ser o dono de suas ações e do
ambiente, num exercício infantil de controle. Por mais que esperneiem as ciências
agregadas, a psicologia e a filosofia e mesmo até, a religião, nós não somos
controladores de nada, antes controlados por uma força superior a nossa que
imaginamos poder negociar.
Negócio da China.
Por sermos humanos somos dotados de ego, agente individualista,
que quer nos apartar da humanidade e construir um castelo próprio para as
nossas fantasias. Um reino que nos aproprie do julgamento sobre o certo e
errado e que nos faça sentir superiores aos outros e assim atestar uma
existência de destaque.
Como os acontecimentos da vida não atestam essa sandice o
mundo externo e a humanidade passa a ser objeto de conquista.
Saímos à caça de aliados que nos auxiliem na tarefa de
valorizar a imagem representativa de um vencedor. A mídia sabe que você esta em
busca desta autoafirmação e nomeia os bens materiais como objetos representativos
de superioridade. A busca para amealhar bens e conquistar um trono para o
assento da bunda desembesta: Fica estabelecido o objetivo humano. Num jogo com
regras obscuras e prêmios questionáveis.
Negociando com Deus.
Na luta desenfreada e irracional de se tornar vencedor, o homem enfrenta na vida um inexorável inimigo chamado “destino”, do qual
não faz ideia de como moldá-lo a sua vontade.
Nessa falta de rédeas e sensibilidade altruísta de se render
a soberania da destinação da vida, novamente sai à caça de aliados e encontra
na religião a promessa de uma vida melhor e mais ajustada a seus anseios
egoístas, onde tem na fé, seu maior trunfo.
A fé se torna uma força interior capaz de “remover
montanhas”, e nesta crença confundida com a ótica humana de saber o que lhe é
melhor, torna a vida um campo de ideologias individualizadas onde não existem
acordos nem aceitação de viver em sintonia com a vida universal. O que o outro pensa, deseja e precisa me
oprime, devo desconsiderar sua existência por minha moral construída em cima
das minhas ilusões, pois o mundo precisa satisfazer a minha vontade, mesmo que
ela seja regida pela minha visão mesquinha de convivência.
A fé que começo a construir a partir deste raciocínio,
descredencia Deus de ser a causa primaria de todas as coisas e dá a ele a
impotência diante de tudo. Um mero observador que senta num trono e fica
torcendo pelas conquistas que almejamos. Uma imagem dantesca onde imperaria o maniqueísmo
e o acaso.
Desta forma eu aceito a ideia do diabo como o outro que não
aceita as normas de moralidade e ética que eu creio como reais. O Deus que eu
construo luta por mim, enquanto o diabo luta pelo outro (“o inferno são os
outros” - Jean Paul Sartre), Neste ambiente se ergue a religião, onde busco
adeptos a minha crença.
A religião é o instrumento de descontentamento com a
realidade. A terra prometida de ilusões humanas, Não se trata de Deus. Segue
assim, um mapa comportamental (cartilha do medo),
para aquisição de um objetivo insubstancial.
Antes, uma fuga do momento imediato para um futuro que nunca
se apresenta por não existir como manifesto. O futuro nunca está a nossa
disposição como experimentação ou usufruto, em verdade é um engodo que nos entregamos por não
sabermos lidar com o momento único da existência: O agora.
A verdadeira fé.
Aquele que tem a aceitação no que acontece e age com
complacência com o destino, tem a fé em sua verdadeira essência, não se pode
confundir com um comportamento omisso diante dos acontecimentos. Não é disso
que se trata! Fé em Deus é entrega total na oportunidade de viver, é submissão
às leis da natureza e existência. É um exercício de atuação na idealização
divina e amorosa, na qual, a nossa adaptação e representação se tornam
intimamente qualificada para novos papeis na criação. Papeis que vão se
tornando mais complexos e mais desafiantes, conforme a superação. Esta é a conquista
real, o reino dos céus, a evolução espiritual, o samadhi, o nirvana, a consciencia cósmica, etc...
Ter uma vida, completamente desgraçada é um papel que sua
verdadeira essência se propõe a atuar(Deus não joga dados e não erra). Pedir a Deus
que mude seu papel através da fé é fazer a inútil tentativa de ir contra a sua
verdadeira natureza e suas habilidades, contra aquilo que se é mais apto a
realizar no teatro da existência.
Infelizmente a maioria irá pensar que isto é uma tremenda
idiotice, assim como eu já pensei, mas com o passar do tempo e essa ideia
batendo na cabeça, vivenciando cada dia com esta verdade, fui me tornando muito
mais livre e muito mais feliz. Aprendendo a ter fé na vida sem me ocupar em me
revoltar com o destino e não medindo forças com Deus e as circunstancias da
vida. Apenas deixando o amor tomar conta do meu ser, num gesto grandioso de
humildade e respeito por Deus, suas regras e seus planos de criador.
Marcos tavares de souza